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Foto do escritorPaulo Lobato

Trilhos ferroviários: substituição de trilhos

Atualizado: 1 de abr. de 2023


Introdução


Neste post vamos aprender sobre o processo de substituição de trilho. É essencial falarmos da segurança no uso de EPI’s adequados e da verificação das ferramentas que serão utilizadas. Além disso, descreveremos cada passo da descarga manual e mecanizada de trilho, sejam eles curtos ou longos. E, enfim, falaremos da substituição de trilho.



Segurança na substituição de trilhos


Como já foi mencionado, é muito importante falarmos sobre a segurança na hora da execução da substituição de trilho, o uso de equipamentos em bom estado, e o uso de EPI’s.


Em primeiro lugar, reforçamos que os equipamentos de proteção aos indivíduos devem ser inspecionados diariamente. Além disso, existem EPI’s específicos para cada operação, por exemplo, no corte de trilho devem ser usados protetor facial e avental de raspa contra projeção de partículas. No geral, todos os trabalhadores no processo de substituição de trilho devem estar com: capacete, protetor auricular, óculos de proteção, botinas e perneiras.


Em segundo lugar, ressaltamos a importância em manter as ferramentas em perfeito estado; uma dica é a cor do mês. Esse procedimento se faz pela marcação das ferramentas todo mês com uma cor diferente; ao trocar de mês trocamos a cor e inspecionamos as ferramentas. Sendo assim, quando uma ferramenta estiver com uma cor diferente da escolhida para o mês, significa que não houve a vistoria desta.



Outro ponto a ser mencionado é a sinalização da via no período de qualquer tipo de manutenção, neste caso, a substituição de trilho. Sendo assim, devemos obedecer aos regulamentos operacionais.


É necessário, também, ficarmos atentos aos animais e insetos peçonhentos. É muito recorrente ouvir casos de picada de cobra ou de escorpião em ferrovias e, por isso, o cuidado deve ser redobrado.


Abaixo listamos outros cuidados que devemos ter:

  • Proteção contra intempéries

  • Cuidados com incêndio

  • Cuidados aos abastecimentos

  • Cuidado com as mãos!

  • Confira os grampos antes de utiliza-los

  • Fique atento à posição ergonômica

  • Não utilize ferramentas improvisadas

  • Proteja a si e ao seu colega


Descarga manual de trilhos curtos


Para fazer a descarga do trilho devemos seguir os seguinte passo a passo:

  • PASSO 1: os locais de descarga deverão ser informados para o operador do trem no início da operação.

  • PASSO 2: no local de descarga e com o trem parado/bloqueado/isolado a equipe deve se certificar que a carga não esteja apoiada sobre os fueiros da lateral do vagão plataforma.

OBS: Fueiros são peças de madeira ou metálicas (pedaços de trilhos), fixadas em sentido vertical, por meio de alças metálicas, nas laterais dos vagões plataforma (prancha), visando fixar os carregamentos de madeira, lenha, dormentes, pedra de lastro, trilho, etc. Na foto a seguir podemos ver uma transportadora de trilho e as hastes metálicas impedindo que o trilho caia.


  • PASSO 3: a equipe envolvida na descarga deve ficar fora da área de projeção da carga, que deverá ser sinalizada, pois pode vir a desmoronar sem ação de qualquer empregado.

  • PASSO 4: Somente após os devidos procedimentos de saúde e segurança cumpridos, a autorização e a orientação do responsável, a equipe de descarga poderá acessar o vagão e iniciar a atividade.

  • PASSO 5: se a carga estiver apoiada na lateral do vagão, a equipe deverá acessa-lo pelo lado oposto antes de retirar o fueiro para o reposicionamento da carga.

  • PASSO 6: utilizando-se de alavancas, marretas ou chaves, os executantes devem retirar os cabos e fueiros para iniciar a descarga. Somente será permitida a retirada dos fueiros depois de certificado que não há risco de queda da carga ou do executante.

  • PASSO 7: se durante a retirada dos fueiros, ocorrer a queda involuntária de qualquer material, a tarefa deve ser interrompida e reavaliada as condições de segurança com a presença de todos os envolvidos na atividade.

  • PASSO 8: todos os executantes devem zelar pela integridade das pessoas que possam vir a transitar próximo ao local, interrompendo sua trajetória, avisando ao responsável pela atividade de retirada dos fueiros e interrompendo a tarefa até que seja normalizada a situação.

  • PASSO 9: os executantes envolvidos na atividade somente realizarão a descarga com autorização do responsável.

  • PASSO 10: a atividade é realizada movimentando a barra de maneira coordenada com os colegas e utilizando alavancas apoiadas no piso do vagão (conforme imagens abaixo).

  • PASSO 11: o responsável pela descarga utilizará 01 apito para autorizar os executantes a descarregar o trilho curto. Cada silvo representa autorização para descarga de uma única barra de trilho.

Descarga mecanizada de trilhos curtos


A descarga mecanizada envolve muito menos colaboradores, é mais segura e produtiva. É válido falar que ela, também, mantém a qualidade do trilho. Abaixo temos dois exemplos de descarga mecanizada.


O primeiro modelo, à esquerda é composto por talhas mecânicas onde os operadores ficam posicionados e de forma coordenada eles içam o trilho com a talha e posicionam o trilho sobre o solo.


Já no caso à direita, é usado um mini guindaste que utiliza o mesmo principio falado no parágrafo anterior. Essas duas maneiras de descarga preserva o trilho, na medida que evita defeitos como fraturas. Na imagem há exemplo deste defeito.


Para saber com mais detalhes sobre este tipo de descarga faça o nosso curso.


Descarga mecanizada de trilhos longos


A descarga de trilhos longos soldados só pode ser realizada de maneira mecanizada, utilizando por exemplos os MTLS, Lobster, os quais são equipamentos que circulam por uma frota especial de trilhos longos soldados. O trilho que está na frota é retirado e inicialmente amarrado na ponta do trilho a ser substituído. Em seguida, a frota começa a se movimentar e o trilho vai sendo deixado lentamente no solo.


Substituição de trilhos


Chegamos de fato ao procedimento de substituição de trilhos. Para isso, há alguns procedimentos que devemos seguir:


1) Monitorar a temperatura

É necessário monitorar a temperatura durante todo o processo. A BRFERROVIA fabrica termômetros para realização desta atividade. Confira no nosso site este e outros instrumentos de medição para via permanente. O trilho deve estar dentro da faixa de temperatura neutra.


2) Posicionar o trilho

Este deve ser posicionado no centro da linha próximo à placa de apoio do trilho que que será substituído. Para substituição de vários trilhos longos soldados (TLS) em sequência, a distância entre eles deve ser ajustada, o trilho deverá ser empurrado ou puxado em sua extremidade com auxílio de macaco apoiado nos dormentes da via ou posicionado utilizando talha mecânica. O posicionamento deverá ser orientado via rádio por um funcionário na extremidade oposta da barra.


3) Buscar pontos concentradores de tensão

Algumas evidências são: deslocamentos laterais da grade ferroviária e/ou marcas de deslocamentos longitudinais dos trilhos (marcas dos grampos/pregos no patim do trilho e/ou dos deslocamentos do trilho nas placas). Esta ação é muito importante para evitar acidentes pessoais durante o corte do trilho aplicado.

4) Cortar o trilho com concentração de tensão

É necessário escolher o local do corte inicial no ponto de menor tensão e cortar utilizando o maçarico. Escolhido o local do corte, este deverá ser perpendicular ao trilho e de baixo para cima, o corte será iniciado pelo patim do trilho indo em direção ao final da alma, com dois cortes paralelos e equidistantes em aproximadamente cinco centímetros e um terceiro longitudinal e abaixo do boleto que ligará os cortes paralelos, conseguindo assim separar todo patim e alma cortados, sem ainda cortar o boleto. Além disso, utilizando a ponta de uma alavanca bater no pedaço cortado até que se solte completamente do trilho. Com o boleto inteiriço realizar um corte na extremidade. Com pequenos cortes ir desgastando o boleto até que a tensão existente no local diminua. Caso os cortes não sejam suficientes para aliviar os topos dos trilhos, repete-se a operação, tendo sempre o cuidado de não cortar além da abertura prevista para realização de solda ou junta. Este procedimento também pode ser adotado em juntas, caso não haja possibilidade de desencontro dos trilhos devido a concentração de tensão no local.


5) Retirar parcialmente a fixação

Se você estiver trabalhando em uma linha de carga e puder colocar uma restrição de velocidade para retirar parcialmente a fixação antes de bloquear a linha, é recomendável fazê-lo. Neste caso, pode-se retirar até 75% da fixação em tangentes (tira 3, deixa 1) e 40% em curvas (tira 2, deixa 3).


6) Selecionar grampos reempregáveis

Selecionar visualmente as fixações em condições de serem reempregadas. Esta tarefa pode ser executada em paralelo com outras atividades durante todo processo de substituição do trilho.


7) Interditar a via

Para solicitação do tempo de interdição deverá ser considerada a FTN (Faixa de Temperatura Neutra). A substituição da barra deve ocorrer na faixa de temperatura neutra a fim de minimizar a consequência dos esforços longitudinais que o trilho sofrerá enquanto instalado. Cálculo da Temperatura Neutra de Referência (TNR) e da Faixa de Temperatura Neutra (FTN)

Tmin: Temperatura no trilho mínima histórica da região

Tmáx: Temperatura no trilho máxima histórica da região


8) Cortar o trilho ou desmontar junta metálica

É necessário retirar a brita do vão no local onde o trilho será cortado ou levantar o trilho com o macaco/guindaste. Posicionar a máquina de cortar trilhos na posição marcada. Cortar o trilho a ser substituído. No caso de tala de junção, retirar os parafusos com chave de junta e remover as talas de junção.


9) Retirar o restante da fixação

Remover 100% da fixação do trilho a ser substituído


10) Remover tensões residuais do trilho

Para isso, deve-se coletar o trilho a ser instalado, erguendo a barra a ser implantada com auxílio do macaco de linha, alavancas ou guindaste colocando roletes a cada 10m embaixo do patim do trilho. Bater com martelo de cobre/bronze ao longo de toda sua extensão.


11) Retirar o trilho usado e assentar o trilho novo

A atividade de retirada do trilho antigo e assentamento do trilho novo pode ser realizada de forma Mecanizada ou Manual. Algumas boas práticas relacionadas a esta atividade são:

  • Anotar a quilometragem exata do início e fim do trilho, assim como data de aplicação, para fim de controle posterior de vida útil do trilho.

  • Marcar o trilho retirado informando a parte do trilho que ainda pode ser aproveitada na via.

  • Para trilhos retirados e posteriormente cortados, a equipe deve garantir que trilhos ou pedaços menores fiquem dispostos ao lado da via, fora do ombro do lastro ou saia do talude, em condições seguras.

11A) Retirada e Assentamento (mecanizado)

  • O Trilho a ser substituído é retirado com o guindaste do caminhão de serviço prendendo o trilho com uma garra e erguendo-o em uma das extremidades para fora das placas e depois para fora da via e em local que não comprometa a circulação das composições, os serviços com Equipamentos de Grande Porte (EGP) e a passagem de pedestres.

  • A medida que a barra a ser substituída é retirada das placas, a outra barra a ser instalada vai sendo colocada com o apoio de uma equipe de no mínimo seis homens munidos de alavancas lisas.

  • Para trilhos de até 15m (curtos) a retirada e o assentamento deverão ser feitos com madal e auxiliada com alavancas lisas para o encaixe nas placas de apoio.

  • Se for necessário rodar o trilho para a concordância de topo de trilho desgastado com trilho novo, esta operação deverá ser feita com o uso do guindaste.

  • O guindaste levantará o trilho a poucos centímetros da linha, para que um colaborador faça o giro da barra.

  • A atividade deve ser interrompida toda vez que qualquer empregado pressentir que ele ou outro podem estar expostos a qualquer risco de acidente.


11B) Retirada e Assentamento (manual)

  • O trilho a ser assentado deverá estar no centro da via, então, com auxílio das alavancas lisas faz-se a retirada e assentamento do trilho no sentido para fora da via.

  • Deve-se atentar para as instruções do encarregado que deverá ditar o ritmo do trabalho de forma a evitar esforços excessivos da equipe.

  • Não se deve movimentar manualmente os trilhos posicionados na saia da banqueta na direção do centro da via, pois, neste caso, há elevado risco deste trilho voltar.

12) Aplicar a fixação

A medida que a barra for sendo retirada e a outra barra estiver posicionada dentro das placas, a fixação deverá ser aplicada a 25% (aplica 1/pula 3) ou 50% (aplica 2/pula 2) até o final da frente de serviço. Em seguida retornar colocando o restante, completando assim 100% da fixação. Ao colocar 25% ou 50%, a via já permite passagem de trem, ficando a critério do responsável pelo serviço a liberação do trecho com velocidade restrita. Em caso de trilho curto, aplicar 100% da fixação.



13) Unir o extremo dos trilhos

Uma vez finalizada a atividade de retirada e assentamento, os trilhos devem ser unidos através do método de soldagem, que é geralmente aluminotérmica, ou entalamento. Ambas as atividades devem ser executadas conforme procedimento específico para as mesmas.


Os passos para entalamento dos trilhos são:

  • Marcação dos furos;

  • Furação;

  • Biselamento dos furos;

  • Aplicação da tala.

O biselamento do furo é uma atividade importante pois elimina quinas vivas de onde poderiam se iniciar fissuras que levariam à fratura do trilho.


14) Liberar a linha para circulação


15) Recolher as bandeiras de sinalização


16) Recolher resíduos e descartá-los corretamente


Conclusão

Chegamos ao fim de mais um post, o qual falamos sobre a substituição de trilho e todo o processo envolvido. Aprendemos sobre as normas de segurança, bem como o passo a passo para fazer o processo de substituição. Vimos, também, exemplos de máquinas utilizadas neste processo. Se você quiser se aprofundar mais neste assunto faça nosso curso de Fundamentos de Manutenção de Via Permanente.


Texto adaptado do Manual Técnico de Manutenção da Ferrovia Centro-Atlântica


Escrito por Paulo Lobato e Laura Lima

Especialista em manutenção de via permanente ferroviária

Elevada experiência em gerenciamento de projetos e análise de viabilidade técnica-econômica de novos projetos

Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensão em ferrovia e transportes pela École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris/França

Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)

Certificado em Inglês Avançado (CAE) pela Cambridge University

Pós-graduado em Engenharia Ferroviária pela PUC-Minas

Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC

Pós-graduado em Restauração e Pavimentação Rodoviária pela FUMEC

Contato: (31) 98789-7662

E-mail: phlobato01@gmail.com


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