Lastro ferroviĆ”rio: conceitos e caracterĆsticas
- Paulo Lobato
- 29 de out. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de abr. de 2023
Introdução
A infraestrutura da via inclui lastro, sublastro e camadas de reforƧo de subleito e subleito. Tudo isto suporta a superestrutura da via composta por trilhos, dormentes e fixaƧƵes. O comportamento da infraestrutura da via influencia significativamente a estabilidade e a eficiĆŖncia da superestrutura da via, assim como a dinĆ¢mica dos veĆculos. A principal função da infraestrutura da via Ć© suportar a carga aplicada pelos trens sem sofrer deformaƧƵes permanentes que possam afetar a geometria da via. Neste sentido, este post Ć© focado nas caracterĆsticas de um dos componentes da infraestrutura ferroviĆ”ria, no caso, o lastro.
O Lastro
O lastro ferroviĆ”rio Ć© composto por rocha triturada e forma a camada superior da infraestrutura, no qual o dormente Ć© confinado e apoiado. O material do lastro de linhas principais Ć© geralmente rocha triturada uniformemente graduada, cĆŗbica e grande. Apesar de que rochas trituradas sĆ£o utilizadas para uma variedade de propósitos na engenharia, o lastro ferroviĆ”rio estĆ” sujeito a uma especĆfica e severa combinação esforƧos de carregamento e exposição ambiental. Em particular, a porção superior do lastro que estĆ” diretamente abaixo do dormente Ć© a zona que deve resistir aos mais altos esforƧos dos carregamentos do trĆ”fego e das operaƧƵes superficiais, levando a uma mais rĆ”pida deterioração do lastro nesta Ć”rea. HĆ” muitas pedreiras que fornecem rochas trituradas para outros tipos de construção, mas a viabilidade da rocha como lastro deve considerar a demanda especĆfica do ambiente ferroviĆ”rio. Isto deve ser levado em consideração quando estiver avaliando novos fornecedores de lastro, porque a boa experiĆŖncia de outras indĆŗstrias com uma dada fonte de rocha pode nĆ£o ser traduzida com sucesso para a indĆŗstria ferroviĆ”ria.
FunƧƵes do lastro
A aceitabilidade do material para uso como lastro deve ser julgado pela sua capacidade de atender às funções necessÔrias. As funções do lastro são as seguintes:
Distribuir uniformemente as cargas das composiƧƵes ferroviĆ”rias, de maneira que nĆ£o seja superada a tensĆ£o admissĆvel da plataforma.
Estabilizar a via verticalmente, lateralmente e longitudinalmente, através da ação de forças de suporte e de ancoragem dos dormentes.
Amortecer, através de sua estrutura semi-elÔstica, as ações dinâmicas das cargas dos trens.
Prover a drenagem, permitindo a liberação das Ôguas das chuvas, e proteger tanto a plataforma quanto os dormentes da umidade.
Permitir o nivelamento e alinhamento da via atravƩs de socaria.
CaracterĆsticas do lastro
O lastro Ć© composto de pedras britadas, extraĆdas de rocha dura sĆ£. A rocha a ser utilizada para a britagem de pedras para lastro ferroviĆ”rio deve possuir resistĆŖncia adequada Ć ruptura por compressĆ£o, podendo ser de 1ĀŖ ou de 2ĀŖ categoria. Os materiais mais utilizados no Brasil para lastro ferroviĆ”rio sĆ£o o quartzito, o gnaisse, o basalto e o granito. Os valores de resistĆŖncia destes materiais podem variar em função de diferentes condiƧƵes de ensaio, porĆ©m, sĆ£o apresentados abaixo alguns valores de referĆŖncia:

Resistência à compressão de referência para diferentes rochas. Fonte: autor.
O lastro deve preferencialmente possuir forma cĆŗbica pois este Ć© o formato que proporciona melhor atrito e contato entre as partĆculas e consequentemente melhor estabilidade.
O lastro deve prover drenagem adequada entre os vazios, permitindo o escoamento da Ɣgua atƩ o sistema de coleta e protegendo assim a plataforma ferroviƔria.
O lastro deve ser suficientemente resistente ao desgaste. O ensaio de resistĆŖncia ao desgaste utilizado em lastro ferroviĆ”rio Ć© chamado de ensaio de abrasĆ£o āLos Angelesā. Este ensaio Ć© normatizado pela ABNT e consiste basicamente em fazer vibrar com grande energia e frequĆŖncia uma amostra de brita seca em um recipiente cilĆndrico normatizado (figura abaixo) e avaliar a quantidade de materiais finos que foi gerado devido ao desgaste das pedras maiores. O limite de abrasĆ£o definido na norma ABNT NBR 5564:2011 Ć© de 30%
Ensaio de abrasão Los Angeles. Fonte: ABNT NBR 5564:2011.
O lastro deve ainda possuir altura suficiente para que os esforƧos incidentes sobre ele possam ser distribuĆdos de forma eficiente sobre o sublastro, evitando assim o colapso das camadas subjacentes que apresentam menor resistĆŖncia mecĆ¢nica. AlĆ©m disso, o lastro deve possuir volume suficiente para resistir aos esforƧos laterais e longitudinais que sofrerĆ” devido Ć dinĆ¢mica do trĆ”fego ou de mudanƧas climĆ”ticas. Por exemplo: Ć© muito comum a ocorrĆŖncia de flambagem de trilhos em perĆodos de muito calor devido Ć dilatação do trilho. A forma mais eficiente de mitigar ou eliminar este fenĆ“meno Ć© garantindo uma largura de ombro de lastro suficiente para resistir aos esforƧos laterais que a grade imprimirĆ” no lastro. Outro exemplo: devido Ć dinĆ¢mica do trĆ”fego, os dormentes podem tender a se movimentar para frente ou para trĆ”s. Neste caso um lastro bem compactado irĆ” impedir a movimentação destes dormentes.
O lastro deve possuir uma granulometria adequada, ou seja: não deve ser muito grande o que pode reduzir a estabilidade da plataforma ou dificultar o trabalho de socaria, mas também não pode ser muito pequeno, pois isso reduzirÔ sua vida útil e facilitarÔ a sua colmatação - preenchimento dos vazios por finos, obstruindo drenagem da Ôgua. A norma ABNT NBR 5564:2011 determina as porcentagens em massa acumulada que o lastro ferroviÔrio deve possuir, conforme tabela abaixo:

Granulometria do lastro. Fonte: ABNT NBR 5564:2011.
Esta mesma norma estabelece ainda outros parâmetros que devem ser observados na especificação e compra de brita para lastro ferroviÔrio, conforme pode ser observado na tabela abaixo:

Propriedades fĆsicas do lastro ferroviĆ”rio. Fonte: ABNT NBR 5564:2011.
Requisitos para aquisição do lastro
A norma ABNT NBR 5564:2011 também estabelece alguns requisitos que devem ser observado na aquisição de lastro para vias férreas. Estes requisitos são apresentados abaixo:
AnƔlise da jazida
O comprador pode exigir do fornecedor a comprovação da capacidade técnica de fornecimento do volume de lastro ferroviÔrio a ser fornecido.
O comprador deve solicitar os estudos geológicos das jazidas, realizadas por entidades especializadas, de acordo com as normas ABNT NBR 6490 e ABNT NBR 7389-2.
A anĆ”lise da jazida deve compreender no mĆnimo:
Descrição geológica da pedreira;
Estudo das ocorrências de rochas explorÔveis dentre as rochas existentes;
Apreciação quantitativa das rochas provavelmente inadequadas para lastro de pedra britada (LP);
Exame das possibilidades de produção de LP.
Amostragem
A amostragem deve ser feita de acordo com a ABNT NBR 6490.
A amostragem do lastro ferroviÔrio deve ser na proporção acordada entre comprador e fornecedor.
Quando o lastro ferroviĆ”rio for fornecido na condição de colocada no veĆculo, a amostragem deve ser preferencialmente, realizada no veĆculo. Caso seja fornecido na condição de colocado em determinado local, a amostragem deve ser, de preferĆŖncia, realizada em tal local.
Antes de qualquer verificação, todas as amostras a cada lote devem ser submetidas a inspeções visuais de aspecto, forma e dimensão. Somente a amostra e/ou lote não rejeitados de acordo com estas inspeções são submetidos a ensaio.
Movimentação do lastro ferroviÔrio
O lastro ferroviÔrio deve ser movimentado e estocado de modo que se mantenha limpo e isento de segregação;
Deve ser transportado de modo que sua granulometria nĆ£o seja alterada e seja mantido livre de alteraƧƵes de suas caracterĆsticas originais;
Por questƵes de seguranƧa do transporte, o lastro deve ser distribuĆdo uniformemente no veĆculo em que for carregado.
Escrito por Paulo Lobato, PMP com colaboração de Laura Lima

Especializado em via permanente ferroviÔria e gestão de projetos
Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensĆ£o em ferrovia e transportes pela Ćcole Nationale des Ponts et ChaussĆ©es em Paris/FranƧa
Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)
Pós-graduado em Engenharia FerroviÔria pela PUC-Minas
Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC
Pós-graduado em Restauração e Pavimentação RodoviÔria pela FUMEC
Contato: (31) 98789-7662
E-mail: phlobato01@gmail.com
Gostou do assunto? Quer saber mais sobre a ciência de manutenção de via permanente?
Inscreva-se no nosso Curso On-line de Fundamentos de Manutenção de Via Permanente.