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Lastro ferroviƔrio: conceitos e caracterƭsticas

Atualizado: 1 de abr. de 2023


Introdução


A infraestrutura da via inclui lastro, sublastro e camadas de reforço de subleito e subleito. Tudo isto suporta a superestrutura da via composta por trilhos, dormentes e fixações. O comportamento da infraestrutura da via influencia significativamente a estabilidade e a eficiência da superestrutura da via, assim como a dinâmica dos veículos. A principal função da infraestrutura da via é suportar a carga aplicada pelos trens sem sofrer deformações permanentes que possam afetar a geometria da via. Neste sentido, este post é focado nas características de um dos componentes da infraestrutura ferroviÔria, no caso, o lastro.



O Lastro


O lastro ferroviÔrio é composto por rocha triturada e forma a camada superior da infraestrutura, no qual o dormente é confinado e apoiado. O material do lastro de linhas principais é geralmente rocha triturada uniformemente graduada, cúbica e grande. Apesar de que rochas trituradas são utilizadas para uma variedade de propósitos na engenharia, o lastro ferroviÔrio estÔ sujeito a uma específica e severa combinação esforços de carregamento e exposição ambiental. Em particular, a porção superior do lastro que estÔ diretamente abaixo do dormente é a zona que deve resistir aos mais altos esforços dos carregamentos do trÔfego e das operações superficiais, levando a uma mais rÔpida deterioração do lastro nesta Ôrea. HÔ muitas pedreiras que fornecem rochas trituradas para outros tipos de construção, mas a viabilidade da rocha como lastro deve considerar a demanda específica do ambiente ferroviÔrio. Isto deve ser levado em consideração quando estiver avaliando novos fornecedores de lastro, porque a boa experiência de outras indústrias com uma dada fonte de rocha pode não ser traduzida com sucesso para a indústria ferroviÔria.

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FunƧƵes do lastro


A aceitabilidade do material para uso como lastro deve ser julgado pela sua capacidade de atender às funções necessÔrias. As funções do lastro são as seguintes:

  • Distribuir uniformemente as cargas das composiƧƵes ferroviĆ”rias, de maneira que nĆ£o seja superada a tensĆ£o admissĆ­vel da plataforma.

  • Estabilizar a via verticalmente, lateralmente e longitudinalmente, atravĆ©s da ação de forƧas de suporte e de ancoragem dos dormentes.

  • Amortecer, atravĆ©s de sua estrutura semi-elĆ”stica, as aƧƵes dinĆ¢micas das cargas dos trens.

  • Prover a drenagem, permitindo a liberação das Ć”guas das chuvas, e proteger tanto a plataforma quanto os dormentes da umidade.

  • Permitir o nivelamento e alinhamento da via atravĆ©s de socaria.


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CaracterĆ­sticas do lastro


O lastro é composto de pedras britadas, extraídas de rocha dura sã. A rocha a ser utilizada para a britagem de pedras para lastro ferroviÔrio deve possuir resistência adequada à ruptura por compressão, podendo ser de 1ª ou de 2ª categoria. Os materiais mais utilizados no Brasil para lastro ferroviÔrio são o quartzito, o gnaisse, o basalto e o granito. Os valores de resistência destes materiais podem variar em função de diferentes condições de ensaio, porém, são apresentados abaixo alguns valores de referência:

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Resistência à compressão de referência para diferentes rochas. Fonte: autor.


O lastro deve preferencialmente possuir forma cĆŗbica pois este Ć© o formato que proporciona melhor atrito e contato entre as partĆ­culas e consequentemente melhor estabilidade.


O lastro deve prover drenagem adequada entre os vazios, permitindo o escoamento da Ɣgua atƩ o sistema de coleta e protegendo assim a plataforma ferroviƔria.


O lastro deve ser suficientemente resistente ao desgaste. O ensaio de resistĆŖncia ao desgaste utilizado em lastro ferroviĆ”rio Ć© chamado de ensaio de abrasĆ£o ā€œLos Angelesā€. Este ensaio Ć© normatizado pela ABNT e consiste basicamente em fazer vibrar com grande energia e frequĆŖncia uma amostra de brita seca em um recipiente cilĆ­ndrico normatizado (figura abaixo) e avaliar a quantidade de materiais finos que foi gerado devido ao desgaste das pedras maiores. O limite de abrasĆ£o definido na norma ABNT NBR 5564:2011 Ć© de 30%


Ensaio de abrasão Los Angeles. Fonte: ABNT NBR 5564:2011.

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O lastro deve ainda possuir altura suficiente para que os esforços incidentes sobre ele possam ser distribuídos de forma eficiente sobre o sublastro, evitando assim o colapso das camadas subjacentes que apresentam menor resistência mecânica. Além disso, o lastro deve possuir volume suficiente para resistir aos esforços laterais e longitudinais que sofrerÔ devido à dinâmica do trÔfego ou de mudanças climÔticas. Por exemplo: é muito comum a ocorrência de flambagem de trilhos em períodos de muito calor devido à dilatação do trilho. A forma mais eficiente de mitigar ou eliminar este fenÓmeno é garantindo uma largura de ombro de lastro suficiente para resistir aos esforços laterais que a grade imprimirÔ no lastro. Outro exemplo: devido à dinâmica do trÔfego, os dormentes podem tender a se movimentar para frente ou para trÔs. Neste caso um lastro bem compactado irÔ impedir a movimentação destes dormentes.

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O lastro deve possuir uma granulometria adequada, ou seja: não deve ser muito grande o que pode reduzir a estabilidade da plataforma ou dificultar o trabalho de socaria, mas também não pode ser muito pequeno, pois isso reduzirÔ sua vida útil e facilitarÔ a sua colmatação - preenchimento dos vazios por finos, obstruindo drenagem da Ôgua. A norma ABNT NBR 5564:2011 determina as porcentagens em massa acumulada que o lastro ferroviÔrio deve possuir, conforme tabela abaixo:


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Granulometria do lastro. Fonte: ABNT NBR 5564:2011.


Esta mesma norma estabelece ainda outros parâmetros que devem ser observados na especificação e compra de brita para lastro ferroviÔrio, conforme pode ser observado na tabela abaixo:

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Propriedades fƭsicas do lastro ferroviƔrio. Fonte: ABNT NBR 5564:2011.


Requisitos para aquisição do lastro


A norma ABNT NBR 5564:2011 também estabelece alguns requisitos que devem ser observado na aquisição de lastro para vias férreas. Estes requisitos são apresentados abaixo:


AnƔlise da jazida

  • O comprador pode exigir do fornecedor a comprovação da capacidade tĆ©cnica de fornecimento do volume de lastro ferroviĆ”rio a ser fornecido.

  • O comprador deve solicitar os estudos geológicos das jazidas, realizadas por entidades especializadas, de acordo com as normas ABNT NBR 6490 e ABNT NBR 7389-2.

  • A anĆ”lise da jazida deve compreender no mĆ­nimo:

  • Descrição geológica da pedreira;

  • Estudo das ocorrĆŖncias de rochas explorĆ”veis dentre as rochas existentes;

  • Apreciação quantitativa das rochas provavelmente inadequadas para lastro de pedra britada (LP);

  • Exame das possibilidades de produção de LP.


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Amostragem

  • A amostragem deve ser feita de acordo com a ABNT NBR 6490.

  • A amostragem do lastro ferroviĆ”rio deve ser na proporção acordada entre comprador e fornecedor.

  • Quando o lastro ferroviĆ”rio for fornecido na condição de colocada no veĆ­culo, a amostragem deve ser preferencialmente, realizada no veĆ­culo. Caso seja fornecido na condição de colocado em determinado local, a amostragem deve ser, de preferĆŖncia, realizada em tal local.

  • Antes de qualquer verificação, todas as amostras a cada lote devem ser submetidas a inspeƧƵes visuais de aspecto, forma e dimensĆ£o. Somente a amostra e/ou lote nĆ£o rejeitados de acordo com estas inspeƧƵes sĆ£o submetidos a ensaio.

Movimentação do lastro ferroviÔrio

  • O lastro ferroviĆ”rio deve ser movimentado e estocado de modo que se mantenha limpo e isento de segregação;

  • Deve ser transportado de modo que sua granulometria nĆ£o seja alterada e seja mantido livre de alteraƧƵes de suas caracterĆ­sticas originais;

  • Por questƵes de seguranƧa do transporte, o lastro deve ser distribuĆ­do uniformemente no veĆ­culo em que for carregado.


Escrito por Paulo Lobato, PMP com colaboração de Laura Lima

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Especializado em via permanente ferroviÔria e gestão de projetos

Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensĆ£o em ferrovia e transportes pela Ɖcole Nationale des Ponts et ChaussĆ©es em Paris/FranƧa

Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)

Pós-graduado em Engenharia FerroviÔria pela PUC-Minas

Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC

Pós-graduado em Restauração e Pavimentação RodoviÔria pela FUMEC

Contato: (31) 98789-7662

E-mail: phlobato01@gmail.com


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