INTRODUÇÃO
Esta série de publicações terá o intuito de apresentar o artigo Monitorando a condição da via para melhorar a gestão do ativo, publicado pela Union Internationale des Chemins de Fer em 2010. A fim de contextualização, a UIC, criada em 1922 e sediada na França, é uma associação internacional que tem por objetivo principal fomentar a cooperação técnica entre ferrovias.
O grupo de trabalho que desenvolveu este artigo entende que “para que os gestores de infraestrutura aumentem o desempenho (disponibilidade) de seus ativos eles precisam tomar as melhores decisões e controlar seus processos, suportados pelas informações corretas analisadas inteligentemente, baseado nos dados corretos coletados sabiamente, e aplicando os padrões corretos”.
Neste sentido, “monitorar a condição da via tem se tornado cada vez mais importante nos últimos anos, visando aumentar seu desempenho, facilitar o crescimento do volume transportado e reduzir o custo de processos de manutenção”. Ainda de acordo com o artigo, as empresas ferroviárias geralmente gerenciam seus ativos baseados em um sistema de monitoramento “bottom-up” (de baixo para cima), ou seja, usam as tecnologias disponíveis e geram o máximo de informações possíveis. Ao mesmo tempo, ele afirma que “a otimização do processo de manutenção é factível se as atividades de monitoramento forem otimizadas para apresentarem apenas as informações necessárias para os objetivos de gestão dos ativos”, o que eles chamam de abordagem “top-down” (de cima para baixo).
De acordo com a metodologia PPMIS (Performance, Process, Information, Monitoring, Standards), para se atingir a excelência na gestão da manutenção de via permanente é necessário que se tenha uma abordagem “top-down” da manutenção. Ou seja, o ponto de partida deve ser a definição do desempenho requerido pela ferrovia e quais ativos mais influenciam este desempenho. A partir daí, deve-se identificar os processos que ajudam a manter este nível de desempenho. Em seguida, deve-se definir o conjunto de informações necessárias para aperfeiçoar o processo, o que por fim levará à definição das atividades de monitoramento que devem ser realizadas para coletar as informações. A figura abaixo ajuda a entender melhor o método.
MONITORAMENTO DA CONDIÇÃO E GESTÃO DO ATIVO VIA PERMANENTE
Gestores de ativos de infraestrutura devem focar seus esforços em garantir a disponibilidade de sua infraestrutura ferroviária operacional com baixo custo; atividades de manutenção devem causar o mínimo de interferência possível para os trens comerciais enquanto garantem um nível ótimo de efetividade. Vários tipos de contratos de manutenção são estudados e testados, mas as principais questões são sempre:
Devo fazer primarizado ou contratar os serviços de manutenção de um empreiteiro?
Devo focar em efetividade e segurança ou em alta disponibilidade?
Devo fornecer diretrizes detalhadas para a empreiteira de manutenção, ou devo cobrá-los por resultados de desempenho?
Até qual nível pode a manutenção preventiva e a manutenção por condição ser implementada?
As posturas podem variar entre os diferentes gestores de infraestrutura das diferentes ferrovias, devido ao histórico ou divergências organizacionais e mudanças políticas recentes. Além disso, a situação econômica e política do país e da companhia influenciam o orçamento destinado para a manutenção de via permanente.
Consequentemente, companhias tem diferentes focos, indicadores de desempenho e estratégias, que levam a diferentes filosofias de manutenção, e também processos de manutenção organizados de maneiras diferentes.
FUNÇÃO DO MONITORAMENTO
Gestores de infraestrutura escolhem, no geral, estratégias de manutenção que os ajude a atingir seus objetivos de gestão dos ativos e os objetivos da companhia. A estratégia correspondente à gestão da informação deve ser definida para cada estratégia de manutenção adotada. Da mesma forma, esta estratégia deve derivar na correta abordagem de monitoramento e inspeção implementada.
Para entender a importância do monitoramento, é importante defini-lo. Assim, monitoramento de infraestrutura é a medição contínua e periódica da condição dos componentes de infraestrutura e/ou seus subsistemas. Sistemas de monitoramento podem fornecer informações sobre as condições e uso da infraestrutura.
Por sua vez, para entender como a estratégia de monitoramento depende da política de manutenção, são dados os seguintes exemplos:
Se um gestor de infraestrutura decide permitir apenas um pequeno desgaste do boleto do trilho e decide ter ações de manutenção em alta frequência e baixa impacto, a informação deve estar disponível também em alta frequência e a acurácia da informação provavelmente deve ser alta também.
Se um gestor de infraestrutura decide fazer uso ótimo do conhecimento das taxas de desgaste do trilho, pode-se decidir por definir níveis de intervenção específicos que permitam planejar a manutenção para logo antes de se atingir os limites críticos de desgaste. Esta abordagem requer que as informações de condição sejam coletadas apenas em intervalos definidos de acordo com a magnitude da taxa de desgaste do trilho.
Se não há informação sobre desgaste de trilho, é necessário alta acurácia e informação sobre a condição em intervalos tão pequenos quanto permitam planejar as medidas de manutenção em tempo hábil.
Além disso, normalmente, se identifica mais de um usuário da informação da condição, por exemplo, quando a mesma informação de condição é utilizada para o planejamento das atividades de manutenção e para avaliar a qualidade do serviço executado por um empreiteiro de manutenção. Nestes casos, deve-se dar atenção especial às características dos dados monitorados no que se refere aos parâmetros escolhidos, intervalos de medição (frequência), acurácia, e distância física entre duas medições (intervalo espacial).
RESULTADOS DA PESQUISA COM GESTORES FERROVIÁRIOS EUROPEUS
As razões para o monitoramento da condição da via podem variar de parâmetro para parâmetro e de ferrovia para ferrovia, desta forma, a comparação entre o que os diferentes gestores monitoram atualmente é problemático. No entanto, esta informação é essencial se queremos buscar oportunidades de melhoria na gestão de ativos. Neste sentido, por volta de 2010, um grupo de profissionais da Union Nationale des Chemin de Fer (UIC) iniciou um trabalho a fim de identificar as tendências dos gestores no que se refere aos seguintes tópicos:
Quais as condições monitoradas?
Qual o propósito do monitoramento da condição da via permanente?
Como esta condição é monitorada? Com qual sistema? Qual tipo de sistema?
Qual a frequência de monitoramento? (eg. número de vezes por ano)?
Como e com qual propósito os dados são utilizados na organização?
O sistema está em desenvolvimento ou operacional?
É utilizado um padrão nacional ou internacional ou um guia que direciona a estratégia de coleta e uso dos dados?
Figura 1 - Países participantes da pesquisa
Gestores de diversos países europeus responderam aos questionamentos. As respostas recebidas mostram que 80% deles monitoram os seguintes parâmetros:
Geometria de via;
Desgaste lateral de trilho;
Trinca em trilho;
Temperatura do trilho;
Pontos geométricos de AMV;
Presença de fixações;
Catenárias;
Presença de obstáculos de gabarito.
Mesmo que o sistema de superestrutura fosse monitorado por vários gestores, dificilmente o mesmo sistema de monitoramento era largamente utilizado. Muitos gestores parecem ter desenvolvido os próprios sistemas com fornecedores nacionais ou as próprias ferrovias o fizeram.
Um fenômeno específico pareceu ainda mais comum, poucos gestores (<33%) tinham sistemas especiais: monitoramento de baixa aderência, rigidez lateral de fixações, espessura de juntas isoladas e uso de AMV’s.
A maior parte dos participantes utilizam informações de trens de medição, mas o conjunto de parâmetros medidos varia de país para país.
Para várias condições um único tipo de sistema era utilizado (trem/trole/sistema manual) era preponderante. Por exemplo, e não surpreendentemente, todos os gestores tinham acesso a carro controle de geometria. No entanto, muitos sistemas utilizados eram sistemas únicos, desenvolvidos por fornecedores nacionais para uma utilização específica.
Uma conclusão importante retirada da análise do questionário foi que geralmente é difícil identificar quem exatamente utilizou a informação de condição e determinar com qual propósito ela foi utilizada.
Uma consequência da falta de entendimento e o observado foco bastante nacionalista no desenvolvimento dos equipamentos foi que a maior parte das condições não eram medidas ou analisadas de acordo com o padrão ou instrução europeia. Não muitos padrões eram utilizados, e, se algum era aplicado, eles geralmente eram nacionais.
A diferença entre os sistemas utilizados mostrou as grandes diferenças no que se refere à abordagem e consciência de urgência, proporcionando uma boa oportunidade para os gestores de infraestrutura aprenderem uns com os outros.
Artigo adaptado de: Union Internationale des Chemin de Fer. Monitoring track condititon to improve asset management (2010).
Escrito por Paulo Lobato, PMP
Especializado em via permanente ferroviária e gestão de projetos
Elevada experiência em gerenciamento de projetos e análise de viabilidade técnica-econômica de novos projetos
Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensão em ferrovia e transportes pela École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris/França
Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)
Certificado em Inglês Avançado (CAE) pela Cambridge University
Pós-graduado em Engenharia Ferroviária pela PUC-Minas
Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC
Pós-graduado em Restauração e Pavimentação Rodoviária pela FUMEC
Contato: (31) 98789-7662
E-mail: phlobato01@gmail.com
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