Introdução
No post anterior, discutimos sobre as definições e aplicações dos trilhos. Já neste post, vamos falar sobre os defeitos deste componente, tanto interno, quanto superficiais; bem como sua vida útil por desgaste por fadiga.
Em primeiro lugar precisamos entender porque é necessário conhecer a vida útil do trilho e seu progresso de degradação. Para isso, separei alguns tópicos sobre essa necessidade:
Selecionar melhor as características do trilho a ser utilizado
Identificar falhas sistêmicas de processo de manutenção
Reduzir a necessidade de grandes estoques de trilho
Priorizar melhor a aplicação nos locais que realmente precisam de intervenção
Planejar melhor os grandes serviços de renovação de via
Outro ponto que é importante entender é o porquê surgem esses defeitos nos trilhos. Resumidamente, isso ocorre devido à dinâmica de contato roda-trilho, a qual gera esforços verticais, longitudinais e/ou laterais, causando desgaste e fadiga do trilho.
Vida útil do trilho por desgaste
Para exemplificar um desgaste muito comum, trouxemos a imagem a seguir. Nesta conseguimos identificar à esquerda um trilho sem defeito e à direita um perfil comum de desgaste de trilho.
Esse desgaste pode ser mensurado de maneira automatizada e/ou manual. Na imagem a seguir temos um medidor desgaste da BRFERROVIA que mede o desgaste horizontal e vertical do trilho. Se você trabalha com manutenção de via pode solicitar nosso catálogo e ver mais produtos como este:
As formas mais comuns de medir o desgaste do trilho são:
Através da perda da área do boleto
Através do desgaste lateral e vertical
Para medir o desgaste através da perda de área do boleto, necessitamos de um instrumento que seja capaz de desenhar todo o perfil do trilho e a partir disso calcular a perda de área do boleto. Já o desgaste vertical e horizontal pode ser medido com o aparelho da figura anterior.
A perda máxima admitida da área do boleto é de 25% para veículos de cargas perigosas e para passageiros. Esse número está na resolução da ANTT e deve ser seguido pelas concessionárias ferroviárias.
É válido relembrar que a resistência ao desgaste pode ser minimizada por meio do tratamento térmico do boleto e/ou através da lubrificação da lateral do boleto.
Vida útil do trilho por fadiga
O primeiro ponto a ser destacado aqui é o conceito de fadiga, a qual é uma degradação progressiva estrutural de materiais sob ciclos de carregamento. Nas ferrovias, os trilhos estão sujeitos a ciclos de cargas muito intensas. No exemplo abaixo, demonstramos um ciclo de esforços em um trilho com a passagem de uma composição com vagões carregados com 16 t/roda.
Nas ferrovias Heavy Haul, em que as composições apresentam muitos vagões, com altíssimas cargas por roda e grande fluxo de trens, pode ocorrer de 10 milhões a 1 bilhão de ciclos de carregamento durante sua vida útil. Isso catalisa tanto defeitos internos, quanto defeitos superficiais nos trilhos.
Defeitos internos nos trilhos
Geralmente, os defeitos internos são originários de falhas de fabricação ou fim de vida útil devido a carregamentos sucessivos (fadiga). Para se desenvolver um defeito interno no trilho é necessário ele esteja sujeito a alguma forma de tensão:
Tensão de contato – tensão de contato da roda com o trilho
Tensão térmica – alongamento e retração constante do trilho devido à variação de temperatura
Tensão residual – provenientes da fabricação do trilho
Quando o defeito se desenvolve ele pode se tornar detectável por ultrassonografia. Posteriormente, falaremos um pouco mais sobre isto.
Classificação dos defeitos internos nos trilhos de acordo com o seu desenvolvimento.
Os defeitos internos podem ser classificados de acordo com seu desenvolvimento. As características geralmente utilizadas para a classificação dos defeitos internos são:
Direção de propagação: transversal, vertical ou horizontal.
Local de surgimento: boleto, alma, patim, furo, solda, junta.
Tipo de solda: elétrica, aluminotérmica, a gás.
Tamanho: pequeno, médio ou grande.
Velocidade de progressão: normal, rápida, repentina.
É importante mencionar que a análise de falhas em trilhos serve para identificar lotes de trilhos com falhas de fabricação, identificar falhas sistêmicas de processo de manutenção e selecionar melhor as características do trilho a ser utilizado em determinado trecho de ferrovia.
Classificação dos defeitos internos nos trilhos em relação à velocidade de propagação
Evolução normal
Evolução rápida
Evolução repentina
Há defeitos internos transversais, internos longitais no boleto, defeitos internos longitais na alma. No nosso e-book mostramos os diferentes tipos de defeitos e como eles acontecem.
Defeitos internos no patim
Este defeito em patim tem como possível causa alguma pancada ocorrida durante sua manipulação. Verifica-se que a fratura no patim do trilho originou-se de um entalhe.
Defeitos internos em solda
Os principais catalisadores de defeitos em soldas são:
quinas de rebarbagem
óxidos aprisionados
inclusão de escória
aquecimento impróprio
Já os principais fatores geradores de defeitos em soldas relacionados ao processo de soldagem são:
Falha no processo de soldagem
Utilização de material fora da validade ou úmido,
Falta de limpeza do cadinho longa vida
No nosso curso sobre trilhos é possível visualizar e entender os defeitos dos trilhos, clicando na imagem a seguir:
Outros defeitos internos em trilhos
Os defeitos em furos geralmente estão associados a juntas desniveladas, furação malfeita, talas de junção excessivamente gastas, impactos anormais de material rodante.
Defeitos superficiais em trilhos
Defeitos superficiais em trilhos por fadiga
Na figura a seguir pode-se observar um exemplo de evolução de um defeito superficial por fadiga de contato roda-trilho
Outros defeitos superficiais em trilhos
O defeito abaixo é resultado da abrasão devido ao deslizamento da roda sobre o trilho de forma excessiva, comumente chamado de patinado. Isso potencializa as forças de impacto no trilho, podendo levar à ruptura repentina do trilho e impedir as leituras dos defeitos por ultrassom (não acoplamento).
A corrugação do trilho é um defeito que se caracteriza por ondas que se formam na superfície de rolamento. Tais ondas podem ser do tipo:
Ondas curtas: 25-76 mm (linhas de passageiro e alta velocidade)
Ondas intermediárias: 76-609 mm
Ondas longas excedendo 609 mm
A corrugação de trilho pode ser extremamente desconfortável para os passageiros, além de acelerar sobremaneira o desgaste dos componentes de via e material rodante. Por isso, é necessário eliminar a corrugação do trilho com esmerilhamento.
Existe um aparelho capaz de mensurar a espessura necessária para esmerilhamento (dimensionamento), além de verificar a quantidade de material esmerilhado (aceite técnico). Abaixo, temos um medidor Gekon da KZV.
Conclusão
No post de hoje vimos os fenômenos de degradação do trilho, bem como os esforços atuantes e os catalisadores dos defeitos. Ao estudar os defeitos nos trilhos, conseguimos não somente identificar falhas sistêmicas no processo, mas também, selecionar o trilho ideal. Para saber mais sobre este assunto faça o nosso curso Fundamentos de manutenção de via permanente. Confira outros post neste site, pois sempre postamos coisas novas e não esqueça de curtir e compartilhar.
Escrito por Paulo Lobato,PMP e Laura Lima
Especialista em manutenção de via permanente ferroviária
Elevada experiência em gerenciamento de projetos e análise de viabilidade técnica-econômica de novos projetos
Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensão em ferrovia e transportes pela École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris/França
Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)
Certificado em Inglês Avançado (CAE) pela Cambridge University
Pós-graduado em Engenharia Ferroviária pela PUC-Minas
Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC
Pós-graduado em Restauração e Pavimentação Rodoviária pela FUMEC
Contato: (31) 98789-7662
E-mail: phlobato01@gmail.com
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